O Pontilhismo de Seraut e Signac
A tendência aparece em diversos momentos na história da arte, mas ganhou corpo no fim do século XIX ao pegar carona no movimento impressionista, tanto é que também é chamada de neoimpressionismo. Os estudiosos da história da arte também se referem ao Pontilhismo como uma reação ao Impressionismo, caracterizando-o como Pós-impressionista.
O termo "peinture au point" (pintura de pontos) aparece por meio do crítico de arte francês Félix Fénéon (1861-1944), um dos principais analistas do movimento. Ele usou o termo pela primeira vez ao comentar a tela Um Domingo de Verão na Grande Jatte (1886), do francês Georges Seurat (1859-1891), um dos precursores desta tendência artística.
A Sunday on La Grande Jatte (1884). Georges Seurat. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
O conterrâneo e contemporâneo de Seurat, Paul Signac (1863-1935), também foi precursor do movimento. Ambos usam o termo divisionismo, que faz referência à divisão das cores. Este termo, contudo, é mais aplicado à teoria -- a palavra pontilhismo denominaria a prática.
Técnica do pontilhismo
A técnica não é tão simples. Não é só sair pontilhando em formato de desenho. Os artistas adeptos desenvolveram o pontilhismo de modo científico, até mesmo matemático. O método não é baseado em pontilhar apenas. Mas, também, em dividir as cores em seus componentes fundamentais.
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No fim do século XIX, a importância do conhecimento científico já era reconhecida na sociedade europeia. Os artistas acompanharam esta realidade, aplicando as teorias cientificistas em suas criações.
O químico francês Michel Chevreul (1786-1889) produziu um trabalho importante para a técnica do pontilhismo, chamado “Da Lei do Contraste Simultâneo das Cores” (1839). Os artistas que seguiam a tendência estudavam como as cores justapostas poderiam criar novos tons. As cores não primárias surgem com o efeito ótico produzido pelo posicionamento dos pontos de cores primárias. Sendo assim, a variedade de cores é o resultado da variedade de cores puras utilizadas e do posicionamento dos pontos: sua ordem, o quanto estão sobrepostos ou a distância entre eles. Não há mistura de cores na paleta, como nas artes clássicas. Tampouco há uso de linhas. Elas não existem no pontilhismo.
Ao olhar para os milhares de pinceladas ensaiadas com cores primárias cobrindo uma tela, o observador enxerga a imagem como um todo, não fragmentada. Os estudiosos do tema diziam que as cores, mesmo dispostas em pontos separados, quando vistos de longe fariam com que nosso cérebro misturasse as cores e enxergasse os tons intermediários. A base da tecnologia da tela do computador, tal qual temos hoje, é assim e os pontinhos são chamados de pixel.
A aparente luminosidade versus sombra fica por conta da transição de cores. Ogden Rood (1831-1902), físico americano, reconhecido por seu trabalho com a teoria das cores, explica por que a imagem parece vibrar quando construída com base em pontilhismo: isso ocorre porque os pontos não se fundem. Eles reagem entre si, principalmente quando a obra é olhada à distância.
Georges Seurat: a vida em pontos
Seurat gostava de retratar a vida moderna da época (final do século XIX). Porém, resolveu fazer isso de uma maneira mais estruturada e complexa do que nos moldes aparentemente rápidos e espontâneos do Impressionismo.
No começo da carreira, o artista francês resolveu seguir uma trilha tradicional.
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Foi ensinado na Escola de Belas Artes de Paris, estudou as obras dos artistas italianos e franceses do início do século XVII no Museu do Louvre. No começo da carreira, buscava inspiração nas obras do artista francês adepto do Romantismo, Delacroix, e do pintor flamengo adepto do Barroco, Peter Paul Rubens. Produzia com lápis e pastel (Conté crayon), o que permitia uma sutil gradação de tom. Seus desenhos desta fase tinham uma vibração parecida com o efeito criado pelo pontilhismo.
Em 1884, fundou a Sociedade dos Artistas Independentes junto com seu colega, também precursor do Pontilhismo, Paul Signac.
Bathers at Asnières (1884), um trabalho de transição do artista no qual ele aplica a nova técnica de pontilhismo. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Ele combinou uma abordagem tradicional a técnicas modernas, como o Impressionismo. Depois agregou os conhecimentos em teoria das cores e criou a ciência de aplicação de cores chamada pontilhismo, tornando-se muito influente, inclusive, para artistas famosos como Picasso e Van Gogh. Apesar de o pontilhismo ser uma técnica metódica, ele permitia a expressão da emoção e vibração.
Seraut gostava das cores quentes, porém com equilíbrio. Usava também linhas voltadas para cima, numa transmissão de alegria. Efeitos de luz e sombra estão apresentados em harmonia em suas telas.
A Torre Eiffel (1889). Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Ele pintou “A Torre Eiffel” baseado na figuração da realidade como num retrato, trazendo uma perspectiva moderna e o preciso conhecimento científico das cores.
Faleceu jovem, aos 31 anos de idade, provavelmente de difteria. Em suas obras finais, preferiu pintar paisagens litorâneas e cenas ligadas à diversão.
O can-can (Chahut) (1890), Seraut
Paul Signac: inspiração navegante
O francês de espírito libertário e simpatizante do anarquismo, Paul Signac, foi um pintor autodidata. Foi ele quem mostrou a Seraut a técnica pontilhista pela primeira vez. Inspirado por Claude Monet, deixou de lado os estudos em arquitetura para se dedicar à pintura. As teorias da cor o influenciaram.
Cap D’Antibes (1919), Signac
Signac gostava de navegar. Teve mais de 30 barcos e fez muitas viagens. Estas experiências trouxeram a inspiração para novos tons. Ele pintou portos e marinhas. Gostava das paisagens de Saint-Tropez, França.
Signac fundou a Société des Artistes Indépendants. Carregou suas obras com ideologias ocultas. Influenciou novos artistas franceses como Henri Matisse (1869-1954) e André Derain (1880-1954), na abordagem fauvista.
The Pine Tree at Saint Tropez (1909), Signac. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Sua carreira como pintor estendeu-se por meio século. Ele faleceu em 1935 em Paris.
Outros artistas adeptos do pontilhismo
The Dining Room (1886), uma cena da vida na burguesia. Signac. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Vamos conhecer um pouco sobre alguns nomes do pontilhismo influenciados por Seraut e Signac no Brasil e mundo.
Charles Angrand (1854-1926), foi um artista francês do período neoimpressionista. Frequentou as rodas de intelectuais de Paris nas décadas de 1880 e 1890. Estudou técnica do pontilhismo a óleo e depois no pastel.
Henri-Edmond Cross, cujo nome de batismo era Henri-Edmond-Joseph Delacroix, (1856-1910) foi um pintor e gravurista francês. Ele é um dos mais famosos do neoimpressionismo e desempenhou um papel importante na segunda fase do movimento. Influenciou Henri Matisse e outros, além de contribuir com o desenvolvimento do Fauvismo.
A Colheita (The Harvest) (1890), Charles Angrand. Imagem para mera ilustração do site Wikipedia
Georges Lemme, pintor belga neoimpressionista, foi um membro do grupo de pintores Les XX, de seu país, ano de 1888.
View of the Church of Santa Maria degli Angeli, near Assisi (1909), Henri-Edmond Cross. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Notre Dame (1904), Henri Matisse. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Sitting Nude on Chair (1910). Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Ballet dancers in the wings (1900). Edgar Degas. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Edgar Degas (1834-1917): artista plástico francês. O pintor, escultor e desenhista identificava-se com o universo da dança. Rejeitou a alcunha de Impressionista, preferindo ser considerado um Realista.
Auguste Renoir (1841-1919): também francês, o artista foi um dos primeiros a engrossar o Impressionismo. Gostava de pintar a beleza e sensualidade feminina.
Jeanne Samary in a low necked dress (1877). Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Belmiro de Almeida (1858 – 1935): o pintor, desenhista, escultor e caricaturista brasileiro foi influenciado fortemente pelas tendências artísticas de Paris ao viajar para a Eropa em 1880, quando realizou até mesmo exposições individuais.
Efeitos de Sol (Italia) (1892). Imagem para mera ilustração do site Enciclopedia Itau Cultural
Charles Thomas "Chuck" Close (1940): pintor e fotógrafo americano. Ganhou fama no que chamamos de fotorrealismo, com seus diversos retratos abstratos e em técnica pontilhista. Criava-os utilizando uma câmera fotográfica com grande ampliação. Após um acidente vascular em 1988, ficou com sequelas nos movimentos, mas continuou a pintar mesmo assim.
Alex (color) (1992), Charles Thomas Chuck Close. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
O pontilhismo é pop, é rock, é eclético
Ben-day dots. Imagem do Pinterest.
O pontilhismo extrapola seu tempo, as modalidades e os estilos e é uma técnica eclética. O conceito permeou diversos movimentos artísticos. A partir da década de 1950, o movimento do Pop Art “resgatou” a técnica, sendo esta aplicada em diversos trabalhos de Andy Warhol e Roy Lichtenstein, principalmente. Este último adotou uma sub-técnica do pontilhismo que batizou de “pontos de Ben-day”.
Artistas modernos continuam a usar o pontilhismo para brincar com as cores, tamanhos e disposição de pontos. A artista japonesa contemporânea Yayoi Kusama (?? ??, Kusama Yayoi, 1929) trabalha com pintura e escultura e aplica uma arte conceitual para expressar atributos feministas, minimalistas, surrealistas e pop. Os críticos a consideram uma faz mais importantes artistas vivas do Japão.
Pumpkin (1990). Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Gabino Amaya Cacho (1961), pintor espanhol, neto de um escultor famoso de mesmo nome, Gabino Amaya Guerrero. Ele escolheu trabalhar com arte ainda criança e gostava de aprender com o avô. Ele gostava de pintar cenas naturais – poses e ilumunações. Utilizou o pontilhismo para criar telas abstratas cheias de cores, até meio que psicodélicas.
Pontilhismo abstrato (2017), Gabino Amaya Cacho. Imagem para mera ilustração do site Wikiart.org
Tatuagem em pontilhismo do artista TasTattoo9. Imagem para mera ilustração encontrada no site Hypeness.
Fato é que até hoje o pontilhismo aparece em diversos tipos de expressão artística. Bons exemplos são as tatuagens em pontilhismo. Os designers, desenhistas e tatuadores desenvolvem pinturas corporais que são verdadeiras obras primas. As tatuagens pontilhadas caíram no gosto das pessoas e estão na moda.
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Obras inspiradas em pontilhismo
28/03/2021 21:33
Nice
14/07/2019 23:04
Achei que o pontilhismo tinha acontecido antes do impressionismo. Muito interessante !!
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USD 415,00
Natureza Curvas #168
145,00 x 213,00 x 5,00 cm
Tapeçaria de parede com sobreposições de camadas, em fios de algodão tingidos.
USD 3.105,00
O ABC dos metafísicos II
76,00 x 62,00 x 0,40 cm
Desenho, pintura e colagem sobre madeira
USD 1.135,00
Morder golden
160,00 x 30,00 x 5,00 cm
Escultura tridimensional de parede
USD 0,00
Série Reflexos, coleção Movimentos
90,00 x 140,00 x 0,10 cm
Díptico. Fotografia digital com impressão fine art em Canson Rag Photographique 310g. Tiragem: 6
USD 2.105,00
Cachorro Baleia de pé - olhando reto
28,00 x 50,00 x 10,00 cm
Madeira cedro esculpida
USD 510,00
Deriva 2
21,00 x 27,00 x 0,01 cm
USD 330,00
Cidades
40,00 x 26,50 x 0,50 cm
Fotografia digital. Impressão em papel FineArt, tiragem de 15 unidades
USD 320,00
Caracol
10,00 x 10,00 x 0,10 cm
Linóleogravura
USD 60,00
The Dark Side of the Sun
80,00 x 120,00 x 0,10 cm
Fotografia digital com impressão em papel Hanhemuhle Photo Rag
USD 1.090,00
Deriva 4
21,00 x 27,00 x 0,01 cm
USD 330,00
